Desafios, expectativas e mudanças na educação em tempo de pandemia
De
repente, ele chegou, carregado de medo, insegurança, provocando destruição,
desemprego, fome, morte. Sim, esta é a doença Covid-19, que trouxe a
necessidade de adaptação, de conviver com o novo, com o que assusta. Esta
realidade impactou o mundo todo, em todas as áreas. Mas quero me ater à
educação, ou melhor, à arte de aprender e construir conhecimento.
Nos
últimos meses, o Brasil e o mundo, com inúmeros esforços, trabalham para conter
o aumento de pessoas infectadas com a Covid-19. Muitas são as medidas para
evitar a disseminação do novo coronavírus, como o distanciamento social e a
quarentena. Tais medidas têm impactado a vida da população em diversos setores,
inclusive na educação.
A
suspensão das aulas é uma medida importante para colaborar no isolamento
social, pois a escola é um espaço onde o contato é inevitável. Tal medida
tem encontrado grande apoio junto aos educadores, pais e instituições de
ensino. A situação de pandemia na qual nos encontramos remete cada educador à
necessária atitude de reinventar. A educação é assim. Por ser histórica e
política, ela não é um software que se adquire e se utiliza. Ela se dá na
relação educador-educando e se repensa todos os dias. O novo coronavírus,
também, nos dá a oportunidade de ponderar sobre o modo como se compreende a
educação, neste tempo.
As
notícias indicam a imprecisão do período pelo qual as escolas permanecerão
fechadas. Diante dessa incerteza, algumas alternativas são propostas para
garantir o direito constitucional de acesso à educação. Sendo assim, as
instituições de ensino são orientadas a aproveitarem, em ampla escala, as
ferramentas de tecnologia educacional, como por exemplo, as plataformas e
ambientes virtuais de ensino, para garantir os processos pedagógicos de
aprendizagem. Os sistemas de ensino já estão produzindo vídeoaulas,
transmissões ao vivo, exercícios on-line, entre outros mecanismos. Todo esse
esforço se faz para manter os estudantes em um ritmo de estudo, mesmo estando
distantes do espaço físico da escola. A escola vai além da sala de aula e
a aprendizagem continua.
As
salas de aula que se parecia com aquelas do começo do século XX, têm agora a
possibilidade de mudar a noção que temos arraigada de que o aprendizado formal deve
acontecer entre os muros de uma escola ou universidade, ampliando as
possibilidades de novas experiências de aprendizagem, uma vez que, atualmente,
o aprendizado formal tem se dado dentro de casa. É difícil, mas é a nova
realidade para pais, professores e estudantes.
A pandemia nos ensinou, em poucos
meses, o real valor de habilidades como criatividade, comunicação,
colaboração, resolução de problemas complexos e adaptabilidade -
todas estas já apontadas há alguns anos como fundamentais para profissionais do
futuro, e que agora se mostram fundamentais para a sociedade do presente.
Também nos ensina o significado de vivermos globalmente interconectados. Não
existem mais questões e ações isoladas. O novo coronavírus desconhece as
fronteiras. Profissionais do futuro precisam ser capazes de entender essa inter-relação
e pensar de forma sistêmica, buscando antecipar o impacto de suas ações em
múltiplos níveis e contextos.
Para
que isso seja possível, as escolas e universidades precisam, urgentemente,
mudar o eixo da aprendizagem, isto é, ajudar estudantes a pensar por conta
própria, desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos, incentivar e
investir em pesquisas, afinal, esta é uma das principais maneiras de se aprender.
O que leva a refletir também, neste
tempo, é a relação entre pais e filhos. Ser adepto do homeschooling (ensino em
casa) não é simples e nem é para todos. No Brasil há restrições na lei. E neste
sentido, Mário Cortella diz que "o papel da escola é o da aprendizagem, a
educação é papel dos pais". Contudo, é possível que o momento traga uma nova
forma de se relacionar, de se praticar com frequência o exercício da empatia
sobre o papel dos professores e reconstruir a relação família e escola.
Nada
substitui o relacionamento entre as pessoas. Simples atos, como abraçar, ter
contato, o encontrar, praticar esporte coletivo, confraternizar, fazer excursões;
isto sim é vida e gera vida, é a marca registrada de uma Educação e o que torna
educadores e educandos pessoas do bem e construtores de valores e de que um
mundo melhor é possível.
Irmã Maria da Luz Diniz, mnsg.